Dica Cinestória #26 - Bohemian Rhapsody
- Projeto Cinestória
- 17 de dez. de 2020
- 4 min de leitura

Bohemian Rhapsody, uma das músicas da banda Queen, formada na década de 70, é também a mesma que nomeia o filme que retrata - ou tenta retratar - a biografia do vocalista Farrokh Bulsara ou Freddie Mercury (seu nome artístico), mas que nesse meio, traz nas telonas a trajetória e construção da banda - ou família - Queen, que é composta pelo guitarrista Brian May (Gwilym Lee), pelo baterista Roger Taylor (Ben Hardy), pelo baixista John Deacon (Joseph Mazzello) e pelo vocalista Freddie Mercury (Rami Malek).
Com direção de Bryan Singer - diretor de “X-Men - Apocalipse” - essa cinebiografia de 2018, mergulha pelas intimidades de Freddie, um artista que antes do sucesso trabalhava em um aeroporto, mas que carregava o sonho e o desejo de se tornar um cantor, mesmo com a recusa de seu pai (que não concordava com o sonho do filho). O pontapé inicial de sua carreira aconteceu quando Freddie candidatou-se a substituir o antigo vocalista de uma banda de rock local, que já acompanhava e admirava.
A partir disso, diversos acontecimentos vão se desenrolando na vida de Freddie, como o seu relacionamento com Mary Austin (Lucy Boynton), uma das pessoas mais importantes de sua vida (além de seus gatos) e os shows com a banda, que a cada dia que passa, tornam-se mais conhecidos, levando-os até a tão esperada turnê mundial.
Nessa turnê, Freddie Mercury passa a se conhecer um pouco mais, principalmente sobre as questões que dizem respeito a sua sexualidade e o filme passa por diversas passagens de tempo, que se estabelecem por meio de grandes hits da banda – Love of My Life, Bohemian Rhapsody, Radio Ga Ga etc – que são parte integradora da narrativa - uma das coisas que mais gosto do filme. Em algumas dessas cenas, observamos de perto a produção de algumas das músicas e discos do grupo, com destaque especial à fotografia, com cores vibrantes e quentes (sempre presentes quando a banda está unida), que nos proporcionam um sentimento caloroso, de alegria e por vezes, acolhimento, pois em meio às gravações, sentimo-nos como se fôssemos parte de sua produção musical.

No entanto, com o passar do tempo, a fama sobe à cabeça do músico, que decide se afastar do quarteto e seguir carreira solo. Observamos então, uma das cenas mais tristes do longa, quando Mary ao chegar em uma das casas de Freddie para tentar convencê-lo a retornar para a banda, o vê sozinho sentado no chão em meio à escuridão do local. Nessa passagem, vemos retratado na tela os sentimentos contrários às cenas anteriores, onde as cores quentes são substituídas por cores frias, reinando ali, apenas tristeza, abandono e solidão, que caracterizam os sentimentos do personagem naquele momento.
A partir de então, Freddie também é diagnosticado como sendo portador do vírus HIV – e como é demonstrado no filme – essa epidemia ainda estava em sua gênese. Vale destacar, que devido ao preconceito aos homossexuais naquela época, a Aids até um tempo atrás, era conhecida como GRID (Gay Related Immunodeficiency) nos meios científicos e popularmente como “câncer gay”, “peste gay” ou “peste rosa”1, sendo essa doença, associada equivocadamente apenas a homossexuais.
Contudo, a discriminação em relação a sua sexualidade não é diretamente retratada no filme, mas sutilmente percebemos pelos gestos e expressões de alguns personagens, como o de seu pai quando Freddie coloca sua mão em cima da mão de Tim Hutton (Aeron McCusker) - seu antigo funcionário, com quem engata em um relacionamento no final do filme -. Nessa hora, conseguimos notar um pouco da reprovação do pai a respeito dessa união, mas que no fim é aceita, pois o amor que existe entre ele e Freddie superou qualquer preconceito - sendo essa, uma das mensagens mais bonitas que o filme busca passar, mesmo que fora da ficção as coisas mudam de figura e nem sempre temos finais felizes.
Em outra passagem que essa discriminação é notada, é na produção do videoclipe "I Want to Break Free", que leva para as mídias algumas cenas dos integrantes do Queen vestidos com roupas femininas e executando tarefas domésticas. O vídeo não foi muito aceito pela população americana naquele período e isso fez com que a MTV, principal emissora televisiva musical dos Estados Unidos, proibisse de divulgar o clipe. A reação negativa se voltou contra Freddie, que levou a culpa pela ideia que nem foi dele, mas de Roger.
Bohemian Rhapsody recebeu diversas premiações e indicações, sendo alguns deles, o de melhor filme no Globo de Ouro e 4 Oscars, nas categorias de melhor montagem, edição e mixagem de som e melhor ator para Rami Malek, que foi um dos destaques do filme pela excelente atuação e representação de Freddie Mercury, estabelecendo, em alguns momentos, uma linha tênue entre a imagem do cantor e do ator.

O longa tem momentos marcantes e emocionantes, a se destacar o desfecho final, que fica por conta de uma das minhas cenas favoritas, o show beneficente Live Aid que demonstra ainda mais a belíssima montagem cinematográfica e atuação de Malek, em um dos mais icônicos shows do Queen, que ainda na atualidade conquista fãs mundo afora.
Alaís Cristina Dräger
Bolsista do Projeto Cinestória (2020)
Discente da Licenciatura em Física do IFSC Jaraguá do Sul - Centro
¹ TERTO JR., Veriano. Homossexualidade e saúde: desafios para a terceira década da epidemia de HIV / AIDS. Horiz. antropol. , Porto Alegre, v. 8, n. 17, pág. 147-158, junho de 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832002000100008&lng=en&nrm=iso.
FICHA TÉCNICA
Nome original: Bohemian Rhapsody
Gênero: Drama, Musical, Biografia, História
Direção: Bryan Singer
Elenco: Rami Malek, Gwilym Lee, Lucy Boynton, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Aeron McCusker
Duração: 133 minutos
Ano de lançamento: 2018
País de origem: Estados Unidos
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