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Dica Cinestória #27 - Nise: O coração da loucura

  • Foto do escritor: Projeto Cinestória
    Projeto Cinestória
  • 17 de dez. de 2020
  • 3 min de leitura

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O longa “Nise: O coração da loucura” apresenta uma talentosa direção de Roberto Berliner, com destaque ao elenco protagonizado por Glória Pires, que em seu papel como Nise, apresentou uma atuação excelente e que mergulhou na personagem. Também podemos destacar as atuações de Fabricio Boliveira (Fernando Dinez), Julio Adrião (Carlos Petius), Flávio Bauraqui (Otávio Iguinácio) e demais elenco, que entregaram personagens realistas, tanto que o filme foi vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro como Melhor Ator Coadjuvante para Flávio Bauraqui.


O filme trata da história de Nise da Silveira, uma psiquiatra brasileira. Nise foi presa por dois anos e passou outros cinco reclusa, pois durante a época do Estado Novo foi acusada de ter praticado atividades que iam contra os ideais do governo, sendo considerada comunista por frequentar círculos marxistas¹.


É após sua volta na década de 1950 que se inicia o contexto do filme, quando a médica começa a trabalhar em um centro psiquiátrico, mas logo ao chegar na entrada do hospital, que é cercado por muros altos, podemos notar em um plano aberto um simbolismo, ao mostrar que Nise precisa insistir muito, batendo repetidas vezes na porta, para ser atendida, representando a persistência dela que será muito testada ao longo do filme.¹ Ao entrar na sala onde estão todos os outros médicos, Nise se depara com uma cena que, no mínimo, causa um desconforto ao espectador: é a única mulher médica daquele centro. Ao longo do filme podemos notar a discriminação que Nise sofre tanto por ser uma mulher em um ambiente machista quanto pelas suas ideias humanitárias.


Esse aspecto é algo muito bem explorado pelo longa e infelizmente muito atual. Desde muito tempo as mulheres não são bem vindas em profissões consideradas importantes como na medicina, sempre passando as mulheres para profissões consideradas menos importantes, como as enfermeiras. No filme podemos notar a presença de muito mais enfermeiras em relação à presença de médicas. Isso vem principalmente do pensamento de que as mulheres por natureza não seriam capacitadas a exercer a medicina, algo que infelizmente ainda não foi superado totalmente nos dias atuais.


Após o choque de olhares que a personagem sofre ao entrar na sala, o médico-chefe explica sobre os novos meios para “curar pacientes” que a clínica irá utilizar, como a cirurgia conhecida como lobotomia e a eletroconvulsoterapia, métodos que a doutora considerava de extrema crueldade, resultando em uma das frases mais marcantes do filme: “eu não acredito em cura pela violência”.


Não aceitando esses métodos, a médica foi passada para o setor de terapia ocupacional, um setor extremamente desvalorizado pela classe médica daquele centro. Então, indo contra o que todos disseram, promoveu melhorias e até alta para os “clientes”, como ela preferia se referir aos pacientes, revolucionando a área da psiquiatria para sempre. Algumas de suas inovações foram o uso de cães como coterapeutas e a arte como forma de terapia. Observando assim algumas peculiaridades, notamos, por exemplo, que no início do filme as obras dos clientes apresentavam formas caóticas que ao final do longa começaram a apresentar certa ordem e padrão.


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Apesar de seu brilhantismo, Nise teve que enfrentar muitas dificuldades por conta de seus colegas de trabalho, que em sua maioria não tornavam sua vida fácil. Entretanto, no contexto do filme e na vida real, Nise revolucionou a psiquiatria no Brasil e no mundo. Arte, animais e o tratamento humanitário é muito difundido nos hospitais psiquiátricos atuais, melhorando exponencialmente o tratamento dos pacientes, trazendo mais qualidade de vida e um tratamento mais eficaz.


O longa é importante, uma vez que ele reconhece uma grande mulher na história brasileira, como a Doutora Nise, que quebrou paradigmas e expectativas, se tornando um símbolo de luta e inclusão. E nos faz refletir sobre as mulheres fortes que temos ao nosso redor, e de como devemos valorizá-las e apoiá-las, para que assim como a Doutora Nise elas revolucionem o mundo.


Mariana Silveira

Bolsista do Projeto Cinestória (2020)

Discente do Técnico em Química no IFSC Jaraguá do Sul - Centro


¹ GOMES, Christianne Luce, BRITO Cristiane Miryam Drumond de. “Nise, o coração da loucura”: representações femininas em um filme sobre a terapêutica ocupacional. 2019. Artigo da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2526-89102019000300638&script=sci_arttext.

FICHA TÉCNICA

Título: Nise: O coração da loucura

Gênero: Drama

Direção: Roberto Berliner

Elenco: Glória Pires; Simone Mazzer; Julio Adrião; Fabrício Boliveira; Flávio Bauraqui

Duração: 106 minutos

Ano de lançamento: 2015

País de origem: Brasil

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