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Dica Cinestória #28 - Jojo Rabbit

  • Foto do escritor: Projeto Cinestória
    Projeto Cinestória
  • 17 de dez. de 2020
  • 4 min de leitura

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O filme Jojo Rabbit (2019), dirigido por Taika Waititi e inspirado no livro “O Céu que nos Oprime” de Christine Leunens¹, aborda a temática da Segunda Guerra Mundial e conta a história de Johannes (Roman Griffin Davis), um menino de 10 anos que tem como amigo imaginário ninguém mais ninguém menos que Adolf Hitler (Taika Waititi). O filme intercala assuntos muito sérios como a perseguição aos judeus, o amadurecimento na infância e a maternidade durante este período, com momentos engraçados e a sátira aos próprios costumes presentes na Alemanha da época. Foi indicado a seis categorias no Oscar, destacando-se em Melhor Atriz Coadjuvante para Scarlett Johansson e levando o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado.


A primeira cena nos leva para o quarto do menino, repleto de símbolos nazistas e ao seu primeiro diálogo com seu amigo imaginário, Hitler, e é a partir daí que é inserido o forte nacionalismo defendido pelo garoto que está prestes a ir para um acampamento da Juventude Hitlerista, onde seria ensinado a matar judeus e preparado para defender seu país nos campos de batalha. Pode-se então perceber que o filme não se utiliza apenas da sátira em cima do temperamento instável do líder nazista, como também da representação dele dentro do imaginário de Jojo, fazendo uma piada com as vontades da liderança da época e com as frustrações que já permeavam o pensamento dos defensores do governo.


Ao decorrer da história podemos perceber como o garoto, mesmo tendo suas ideias superficiais sobre o regime da época, não age de acordo com o esperado. Observa-se então o início de uma mudança em seus pensamentos quando Jojo foge ao ser questionado sobre suas habilidades de matar um coelho, o que já demonstra uma grande quebra na naturalização sobre os comportamentos violentos dos soldados nazistas. O filme ressalta isso também por meio das cores vibrantes, das músicas animadas e até mesmo das próprias piadas que envolvem a trama e seus personagens frustrados. O pensamento do menino e seus diálogos com seu amigo Hitler mudam de aparência ao longo da trama, trazendo à tona a questão da inserção da ideologia na rotina do povo alemão desde a infância e mostrando um outro lado do menino, que acaba sofrendo um acidente que deixa cicatrizes no seu rosto.


Outro aspecto muito importante para o enredo do filme é a presença da mãe de Jojo, Rosie Betzler (Scarlett Johansson), e a relação dela com movimentos antinazistas, que ao desenrolar da história se mostram parte fundamental da personalidade de Rosie, tornando-se um dilema quando se trata da proteção de seu filho. Ao contrário da rigidez e da padronização no comportamento dos outros personagens que representam ligações com o governo nazista, Rosie é uma mulher alegre que ama dançar e tem um grande desejo pela liberdade. Vale ressaltar a atuação de Scarlett Johansson, contrapondo as angústias da personagem em relação ao amadurecimento de seu único filho em uma sociedade autoritária com a sua personalidade forte e seus desejos por um país livre da guerra.


Durante o filme também podemos ver novas relações que Jojo constrói e que mudam o ritmo da história, que aos poucos vai se tornando mais cruel, as músicas animadas tornam-se menos frequentes, o inverno e as cores frias aparecem em cena. É introduzida a presença de Elsa, uma menina judia de 17 anos que mora escondida nas paredes da casa dos Betzler e teve seus pais levados para o campo de concentração. As conversas com a menina deixam Jojo curioso e vão ocupando a imaginação do menino, deixando menos espaço para as aparições de seu amigo imaginário, que quando aparece, são tentativas de recuperar as mentiras sobre os judeus que foram contadas para o menino.


De uma forma muito sutil, o filme chega em sua cena mais chocante. Nesse momento acompanhamos Jojo seguindo uma borboleta até que acontece o enfoque em um par de sapatos vermelhos que, como o filme já havia mostrado, remetem à sua mãe. Antes associados ao espírito livre de Rosie, os sapatos são apresentados nessa cena em um contexto muito cruel, juntamente a um bilhete com dizeres a favor do fim da guerra, tornando a sequência muito comovente ao mostrar a dor do menino com aquela situação que traz para o enredo a real crueldade e perseguição à oposição da época. Daí em diante o filme mostra a batalha dos soldados alemães contra as forças Aliadas e nos leva a uma cena repleta de violência que faz um contraste com as ideias segregacionistas antes reafirmadas pelo próprio filme em forma de sátira - mostra crianças, mulheres, idosos lutando por suas vidas completamente desesperançosos.


A narrativa em Jojo Rabbit oscila muito bem entre os momentos alegres, cenas com fluidez, músicas da época e a violência do regime e as incertezas do povo. Utiliza-se de metáforas para tratar de assuntos importantes como na cena dos sapatos e nos discursos de Hitler para o menino, e realiza isso de uma forma com que sejamos levados pela história do garoto querendo saber o desfecho de suas ações, sendo chocante nos momentos necessários, pois, afinal, o filme fala do nazismo. De uma forma muito leve enfrentamos e entendemos juntamente com Jojo e outros personagens marcantes um pouco mais sobre amadurecimento em um tempo difícil e o filme faz isso com excelência destacando-se no meio de outras histórias com essa temática.


Vitória Baratto Ribeiro

Bolsista do Projeto Cinestória (2020)

Discente do Técnico em Modelagem do Vestuário no IFSC Jaraguá do Sul - Centro


FICHA TÉCNICA

Título original: Jojo Rabbit

Gênero: Comédia, Drama, Guerra

Direção: Taika Waititi

Elenco: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson, Rebel Wilson, Alfie Allen, Archie Yates, Sam Rockwell, Stephen Merchant, Taika Waititi, Thomasin McKenzie, Billy Rayner, Brian Caspe, Joe Weintraub, Luke Brandon Field, Robert East, Sam Haygarth, Stanislav Callas.

Duração: 108 minutos

Ano de lançamento: 2019

País de origem: Alemanha, Estados Unidos

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